Estudo vê centralização do serviço reumatológico em Pernambuco
Análise conduzida na Fiocruz-PE revela ainda a falta de equipes interdisciplinares para atendimento reumatológico no Estado
Outro fato que complica uma política pública é a inexistência de estatísticas oficiais de quantos pernambucanos convivem com doenças reumatológicas (DR). Sabe-se, contudo que mais de 70 mil pessoas foram afetadas pela chikungunya de 2015 a 2017. A arbovirose comprovadamente gera quadros reumatológicospermanentes, a exemplo da artrite. De acordo com levantamentos acadêmicos sobre o tema, a taxa de cronificação da doença, que é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, é de 30%. Isso significa 21 mil pessoas a mais em busca de diagnóstico e tratamento apenas nos últimos três anos. “Identificamos que Pernambuco não apresenta uma rede de atenção à saúde específica para o acompanhamento de pacientes reumatológicos, embora apresente uma série de componentes estruturais indispensáveis para o seu funcionamento. Mas não é suficiente ter os componentes, eles precisam funcionar em rede, precisam dialogar com o intuito de dar resolutividade às questões reumatológicas e, também, prevenir o surgimento de doenças por meio de estratégias de promoção à saúde”, explicou a pesquisadora Suélem Barros.
Ela comentou ainda que a atenção aos pacientes com DR ainda é pautada exclusivamente nos atendimentos realizados pelos médicos especialistas, que se concentram na RMR, com os serviços de média e alta complexidade, havendo pouca ênfase para o trabalho de uma equipe profissional interdisciplinar, descrita na literatura como necessária para assistência desses pacientes. “A atenção à saúde do paciente reumatológico, centrada no profissional médico e valorizada do ponto de vista farmacêutico, também é preocupante, pois é reflexo do arcaico modelo de saúde aplicado nos dias atuais. Demonstra uma assistência à saúde limitada para as reais necessidades destes usuários, portadores de condições crônicas e pouco envolvida com a promoção da saúde, mudança de estilo de vida e prevenção de incapacidades funcionais”, explicou.
A doméstica Clarita Coelho, 31 anos, é um desses casos. Há dois anos, a chikungunya a pegou. “Sentia muitas dores. Ainda hoje, quando acordo e coloco os pés no chão, ainda dói. Só depois de algum tempo é que vai passando”, contou. No início, para aliviar as dores e inchaço nas articulações buscou as UPAs, mas não conseguia ficar boa por muito tempo. “Quando ia para as emergências, como na UPA, só passavam remédios ‘besteirinha’ como dipirona, tylenol, e isso ai não resolvia. Ai diziam que não tinha remédio para isso não”, relembrou. No desespero, tomou por conta própria corticoide por três a quatro meses. Foi somente com a intervenção da patroa que ela conseguiu um acompanhamento médico mais direcionado no Hospital Barão de Lucena (HBL).
“A gente trabalhava mancando. Era horrível”, disse. Mesmo assim, Clarita Coelho contou que a assistência é feita por um clínico geral e até hoje não passou uma avaliação com reumatologista. Ela também nunca teve indicação para sessões de fisioterapia ou outra abordagem que não fosse a medicamentosa. “Era só remédio que ele passava. Aumentava a dosagem e pronto. Fiz uns exames de sangue, urina e fezes”.
A manicure Elaine Silva, 29, tem uma história parecida. Ela teve os sintomas do vírus há dois anos e, de lá para cá, o inchaço nos joelhos e tornozelos viraram rotina. “Antes eu não conseguia nem andar, gritava de dor e fui socorrida várias vezes. Nunca passavam um remédio que sarasse, porque diziam que não exista. Então, era só medicamento para passar a dor na hora”, relembrou. Tentando descobrir o que acontecia com as articulações, acabou pagando do próprio bolso exame de imagem, já que no SUS o teste iria demorar demais. “Paguei R$ 70 na época para fazer o exame já que se fosse depender do SUS, esse teste só sairia meses depois.”
Sobre os resultados da insuficiência apontada pela pesquisa da Fiocruz, a pasta disse que a rede de reumatologia estadual está presente em todas as macrorregiões de Saúde do Estado, por meio das Unidades Pernambucanas de Atenção Especializada (UPAEs) de Caruaru, Garanhuns, Salgueiro, Afogados da Ingazeira e Serra Talhada. Frisou também que toda a rede de UPAEs (dez ao todo) conta com o suporte de fisioterapia motora. Os hospitais das Clínicas (HC), Geral de Areias e Universitário Oswaldo Cruz (HUOC) também ofertam a especialidade de reumatologia. A marcação é feita pelos municípios de residência do usuário, juntamente com a Regulação Ambulatorial do Estado, ou seja, o acesso à especialidade deve ser realizado, ainda, na Atenção Primária, após avaliação médica.